Desde muito cedo, quando adolescente, duas coisas me chamavam a atenção nos filmes de western: a paisagem e a música. A planície árida ou gélida, a minas, as grandes pedras, os abutres, os povoados eram personagens para mim como era também a música: dramática, telúrica, apoteótica. Por um punhado de dólares, Johnny Guittar, Django - com Franco Nero -, lembro muito mais da música e da paisagem do que propriamente da história.
Nelson Brissac, no seu livro "Cenários em ruínas", mostra como este tipo de filme produz uma figura emblemática do imaginário contemporâneo: o homem de lugar nenhum - "absorvido pelo espaço ao redor, ele se integra à paisagem. É mineral. A planície vai até o horizonte: um grande país, a única coisa maior é o céu. The Big Sky. O deserto é onde esse homem sem lugar encontra seu lugar. (...) Aquele que anda pelo deserto, o homem da planície, luta para afirmar quem ele é: para defender sua família, para vingar uma afronta, para sustentar a sua honra."
Assistir ao filme de Tarantino, Django Livre, fez-me relembrar isso e revisitar o excelente livro de Nelson Brissac. Tarantino consegue, com maestria, mostrar a sua versão desse gênero de filme. Há tudo que se espera de um bom Western: a geografia, a música, a duelística história, evidentemente: violência, preconceito, vingança, amor, justiça, e tudo isso com uma boa dose de humor, bem peculiar desse diretor, que por conta mesmo desse humor cínico é bastante criticado - não conseguem entender sua seriedade gaiata.
Gostei tanto do filme que acabei compondo uma música. Há algum tempo, venho trabalhando com poesia sonora e música digital. Para isso, utilizo-me de vários sintetizadores virtuais: Fm8, West Africa, da Native; alguns sequenciadores sonoros da internet: o Untitled Song - Soundation Studio, que é bem legal; e, também, outros brinquedinhos. Ouça Canção para Django.