Os textos que trouxemos no primeiro dia de o(fim)cina de atuação para cinema foram o fio condutor da narrativa que criamos para a filmagem do penúltimo dia de aulas. Estamos praticamente no FIM.
Os textos são diversificados, mas nossa vivência de laboratório que resultou em filmagem, trouxe-me a recordação dos versos de Stela do Patrocínio - uma interna do mesmo hospital psiquiátrico de Arthur Bispo do Rosário que impressionou artistas e pesquisadores pela força poética de sua fala nos anos 1980.
Não sou eu que gosto de nascer
Eles é que me botam pra nascer todo dia
E sempre que eu morro me ressuscitam
Me encarnam me desencarnam me reencarnam
Me formam em menos de um segundo
Se eu sumir desaparecer eles me procuram onde
eu estiver
Pra estar olhando pro gás pras paredes pro teto
Ou pra cabeça deles e pro corpo deles
(Stela do Patrocínio)
Dias semanas meses o ano inteiro
Minuto segundo toda hora
Dia tarde a noite inteira
Querem me matar
Só querem me matar
Porque dizem que eu tenho vida fácil
Tenho vida difícil
Então porque tenho vida fácil tenho vida difícil
Eles querem saber como é que eu posso ficar
nascendo
Sem facilidade com dificuldade
Por isso é que eles querem me matar
(Stela do Patrocínio)
Vim de importante família
Família de cientistas, de aviadores
De criança precoce prodígio poderes
Milagres mistério
(Stela do Patrocínio)
Nasci louca
Meus pais queriam que eu fosse louca
Os normais tinham inveja de mim
Que era louca
(Stela do Patrocínio)
Meu nome verdadeiro é caixão enterro
Cemitério defunto cadáver
Esqueleto humano asilo de velhos
Hospital de tudo quanto é doença
Hospício
Mundo dos bichos e dos animais
Os animais dinossauro camelo onça
Tigre leão dinossauro
Macacos girafas tartarugas
Reino dos bichos e dos animais é o meu nome
(...)
(Stela do Patrocínio)
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