“O tempo é a substância mesmo da qual sou feito. O tempo é o rio que me carrega, mas eu sou o rio: é o tigre que me rasga, mas eu sou o tigre: é o fogo que me consome, mas eu sou o fogo”.
Jorge Luis Borges
Assistimos ao filme Bal, filme turco do diretor Semih kaplanoglu, que ganhou o Urso de Ouro em Berlim este ano, cuja tradução do título para nosso idioma é Doce Olhar. Filme belo. Da relação dos humanos entre humanos. Da relação dos humanos entre seres não humanos. Da natureza que se apossa do olhar bem posicionado da câmera - são as pessoas que se infiltram nela. Do aquário talvez de peixes, talvez de gente, talvez de prêmios que aparece em instantes quase se tornando uma grande angular. Da paleta de tons de verde do diretor de fotografia revezado poucas vezes com o âmbar nos ambientes internos. Dos sonhos que são sussurros ou o contrário. Do silêncio ao se pedir um perdão. Do silêncio ao se demonstrar o amor. Do amor que vem aos goles num copo de leite. Há neste filme uma ética das imagens: elas insistem em perdurar por mais tempo e nos forçar o pensamento, a ação. É impossível permanecer o mesmo depois de assistir ao filme. Sua imagem-tempo, poderosamente, nos arrebata com seus devires – devir-abelha, devir-árvore, devir-animal, devir-mineral. O filme é pura paisagem como puro percepto, no sentido deleuziano da palavra, que revela a natureza inumana em que o homem se instala. Nestes tempos de velocidade máxima e narcisismo humano fetichista é ético e esteticamente necessário incorporar uma doçura do olhar.
Adriana e Herbert
(Drilove)
Imagens: http://img29.imageshack.us/img29/8351/cj70.jpg
http://www.google.com/hostednews/afp/media/ALeqM5gTsqQFRoMJSq4HB0603yzuRSeTwg?size=l
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