O equilíbrio nietzscheano em Cisne Negro
Por Ricardo Silva
Estou maravilhado, deslumbrado, fascinado, abobalhado, encantado, estou em suspensão. Hoje tive a oportunidade de assistir ao filme Cisne Negro (Black Swan).
Tenho algumas considerações “filosóficas” sobre a obra. Identifiquei nela muito do pensamento de um filósofo alemão chamado Nietzsche. Partirei do pressuposto de que vocês já conhecem o filme (se não conhecerem, calma, não darei nenhum spoiler). Vamos lá.
O enredo da obra dirigida por Darren Aronofsky relata a história de Nina (Natalie Portman) , uma bailarina que consegue o papel de rainha dos cisnes no ballet o “Lago dos Cisnes” do meu maravilhoso Tchaikovsky, e sua ardorosa luta para conseguir interpretar esse papel. Ela terá que interpretar os dois cisnes, Odete e Odile, o Cisne Branco e o Negro, de forma convicente e arrebatadora. O filme todo trata desta luta.
O filme levanta questionamentos muito relevantes. Como Nina é uma exímia bailarina, que se preocupa com a técnica, e com uma perfeita execução dos passos, ela acaba, por causa dessa disciplina, se comedindo e se trancando para a possibilidade de viver de forma espontânea e intensa seu papel. Ela luta para ser disciplinada e intensa ao mesmo tempo, o que é um complexa e dificílima tarefa. Poder encontrar o equilíbrio entre o dionisíaco e o apolíneo. Mas Ricardo (esse é o meu nome ok), o que é isso?
Dentro do panteão de deuses da mitologia grega, existiam dois deuses contrastantes: o Apolo, deus da medida, do controle, da razão, da mensura; e o Dionísio, o deus do desvairio, da liberdade, da intensidade, da paixão. Eles se tornaram símbolos de contrastes. E nossa vida é pautada ainda sob a influência (metafórica diga-se de passagem) desses deuses. Até certo tempo, dentro do contexto história da Grécia antiga, o deus que possuía mais aceitação era o Dionísio, que era venerado, e seu comportamento imitado; com o passar do tempo (e o detalhes históricos disso, procure no google), alguns pensadores começaram a tirar Dionísio, a intensidade descomedida, do pedestal e colocar Apolo, a luz da razão, a racionalidade, no lugar mais alto. A partir de então, todos os nossos impulsos “carnais” começaram a ser reprimidos e combatidos (um exemplo notável disso é o cristianismo), contudo eles não desapareceram; e todo o discurso certo, tinha que ser um discurso pautado na razão. A vida correta era a vida comedida, controlada. Quem quebrasse essa regra áurea, era visto com maus olhos (ou queimado vivo). E todo o pensamento ocidental platônico-judaico-cristão fundamenta-se nisso. Mas, eis que no final do século XIX, aparece um pensador original, uma verdadeira dinamite destruidora de discursos vazios: Friedrich Nietzsche.
Este pensador de origem alemã, propõe a retomada do dionisíaco na vida do humano. Seria uma vingança de Dionísio. Nossa vida não é feita só de racionalidade e comedimento, ela é formada também pela intensa paixão pelas coisas, pela entrega aberta para as coisas. Mas Nietzsche não diz que se deve agir loucamente sem pensar nas consequências, sermos loucos. Agir por agir somente. Precisamos de chão, de algo que nos segure para que não sejamos trucidados pela nossa própria loucura. O que ele critica é forma como levamos nossas vidas: nos reprimindo. E ele oferece uma saída: o equilíbrio. Não ficar nos reprimindo como se esses desejos fizessem parte de um aspecto negativo de nossas vidas. Há uma metáfora que exemplifica muito bem isso: a vida é como um quadro, onde a moldura seria o apolíneo, e as cores, os desenhos que compõe o quadro, o dionisíaco. O dionisíaco é que daria beleza a vida, mas para que não extravase, seria contido dentro da moldura do apolíneo.
O problema de nossas vidas é que a passamos toda apenas como um esforço para reprimir nossos desejos, nossas reais vontades. Dentro do filme, isso é bem posto quando Nina tenta reprimir as forças do cisne negro, que fazem parte dela, que querem sair.
Não podemos fazer de nossas vidas uma eterna luta contra nossos impulsos. O que devemos fazer é lutar para chegar ao equilíbrio e se jogar para vida (desculpe o clichê), mas sem ser destruído por essa repressão da razão. Não devemos colocar um muro entre nossos desejos e a razão, mas fazer com que os dois andem juntos e em harmonia.
obs: esta não é uma crítica de cinema. Se você quiser ler uma boa crítica veja estas duas aqui: 1° http://migre.me/4amEY e a 2° http://migre.me/4amFz (copie os link e ponha-os na barra de endereços do seu navegador)
Este texto foi escrito por Ricardo e postado originalmente em seu blog Retalhos de Existência após uma das sessões do Cine Paraíso, cuja curadoria foi realizada pelo Gupo Pium Filmes.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEscrevi um texto sobre o Cisne Negro. Deem uma olhada: http://retalhosdeexistencia.wordpress.com/2011/04/02/o-equilibrio-nietzscheano-em-cisne-negro/
ResponderExcluirVamos ler o seu texto, agradecemos seu comentário em noso blog.
ResponderExcluirAbraços